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Mostrando postagens de janeiro, 2023

Retratos

  Garota fazendo pose Tirando retrato Caras e bocas Mulher com criança Segurando para não cair Ninguém ofereceu lugar Rapaz ousado Cheio de estilo Quase um vestido Olhares doces Outros proibidos Não deu tempo de nada O trem parou na parada Todos desceram Linha de chegada Outro dia Tudo de novo Mesma garota Menino e sua mãe O cara ousado Vestido rasgado Muito monólogo Pouco diálogo A vida é um teatro Muito mal ensaiado

Mãe e Meretriz

  Dois, três passos do Paraíso Consolação Suas guerras e conflitos Grito silencioso dos aflitos Roupas e suas cores Ternos, vestidos O maior de todos os pecados Por todos os lados Seus filhos e adotados Todo dia é seu aniversário Todo dia sempre ao contrário Plantas fugindo dos seus vasos Gatos e gatunos nos telhados Lá vai mais um desesperado Queimando os joelhos no asfalto Cidade de Paz Cidade de mãos ao alto Seus quadros, seus quadrados Enquadros Seus ângulos, retângulos Seu círculo vicioso Dramas e comédias No palco principal Povo todo misturado Mas nem sempre igual Tão grande, tão pequena O lixo que alimenta O luxo que ostenta Tentando ser feliz É mãe e também meretriz

Noites

  Depois de uma noite Cazuza Acordei meio Legião Quem sabe amanhã Eu esteja diferente Quem sabe Djavan No meu canto sendo Nando Sendo quase Santo Quase um pranto Eu não quero mais ficar Nem mais um segundo Aqui nesse lugar Acordei de banda Madrugada já é dia Nunca estou em uma pior Quando a tristeza ameaça Mostra sua cara Vou logo ouvindo Belchior Meu som favorito Sua voz, seu espirro Seu jeito estúpido de falar comigo Disfarço minhas vontades Em lindas canções Disfarço meus desejos Controlando sensações

Mesa Oval

  Poetas reunidos Uns mortos, outros vivos Palavras ao vento Eternos saudosistas Loucos de pedra Decididos suicidas Salão oval Mesa redonda Uma nova onda Futuro da nação Pensadores com seus óculos Criando tendências Procurando resultados Analisando consequências Nobres senhores Nobres senhoras O mundo anda tão hipócrita Caretas em suas cadeiras Os bons filhos Da tradicional família brasileira Todos estão pelados Cuspindo em seus pratos Riscando regras em um papel Escrevendo conclusões precipitadas Nenhuma mentira é necessária Poetas reunidos O mundo acabando Idiotas com seus violinos

Flor

  Força frágil de uma flor Frágil força da flor Delicada, decidida Passando por cima De quem duvida De quem ainda não acredita Seus dez braços Suas quinze pernas Sua vontade de ser feliz Na guerra é guerreira Na rua dá rasteira O que gosta, o que quer Beija homem, quase homem Espelho, mulher É mulher, sim uma flor Seu espinho tem veneno Engula seu discurso pequeno Na chuva lava o cabelo Verde, azul, vermelho Um dia é Bond No outro Indiana É maravilha Caça tubarão Mata barata com um empurrão Força frágil de uma flor Quase frágil, quase flor

Bel

  Sempre encontro Belchior Numa esquina perigosa Numa noite sem glória No momento da volta Depois de apenas morrer Acabou o cigarro Não tenho mais carro Vou de poesia Antes de enlouquecer Sempre encontro Belchior Quando acordo com o sol Quando vou do norte até o sul Quando canto um blues Rasgo livros de literatura Danço com meu jogo de cintura Sopro fumaça no céu azul E quando me perco pelo caminho Quando quase caio no precipício Quando fujo dos inimigos Quando minha salvação é um grito Eu encontro, eu... Sempre encontro Belchior Na hora das boas palavras Numa tarde sem graça

Desfecho

  Voltar no tempo E ter mais tempo Para ser feliz Viver tudo de novo Tudo que sempre quis Rodar pelo planeta Cortando estradas Atravessando fronteiras Por todos os caminhos Contando mentiras verdadeiras Voltar no tempo Contando segredos inéditos Revelando desfechos Curando vários medos O futuro não é tão ruim assim Sua barba vermelha Vai ficar toda branca Sua casa vai ficar pequena Cheia de crianças Toda noite antes de dormir Vai lembrar que esqueceu De molhar suas plantas Tão próximo, tão longe Difícil explicar, melhor esperar Livros sem páginas Livros sem estante Amanhã não é tarde Só um pouco distante Nada como voltar no tempo...

Plural

  Gosto do seu silêncio Mas gosto de barulho Você também E ok, tudo bem A gente se entende Dançamos nossa dança Dançamos outros ritmos Não existe conflito Nossa fome nem sempre é a mesma Cuide do jantar Amanhã o almoço é em outro lugar Aceitamos alguns olhares Desviamos de muitos outros Olhares de hipocrisia Não precisamos explicar O que não tem explicação O que não interessa Amor não é festa Mudar o caminho Desviar a rota Juntos para o que importa Sou mais o Paul Você o John Sou roupa colorida Você roupa preta Sou do sol Você lua Gostamos um pouco mais Multiplicidade Somos plurais

Leia

  Sou um livro Páginas e mais páginas Capítulos secretos Leia até amanhecer Devore cada linha Até entender Biblioteca Orgia, overdose Prazer para dar e vender Emprestar Todas suas letras O tesão de ler Romance, biografia Sou voraz Sou poesia Faça um resumo Um rascunho Coloque no papel Suas impressões O que acha de mim Não vou falar nada Não vou corrigir Decifre essa charada Sou um livro sagrado Leitura obrigatória Doce sabor do pecado Leia...

Morreu

  Quem não queria atirar Atirou Quem não queria matar Matou Quem nasceu para viver Já morreu Olhou para os dois lados Mesmo assim fui atingido Atropelado pelo destino Braços abertos, de joelhos Sob o sol do meio-dia Sangue no peito Não deu tempo de ter medo Desespero com cara de alegria Rastros pelo caminho Marcas, manchas O passado esfolado no asfalto O pecado de nascer Marcado para morrer No rádio uma canção Uma voz desconhecida Um anúncio, uma notícia Uma verdade escondida Desespero sem alegria Quem não queria atirar Atirou

Mãos

  Mão procurando mão Um ato de coragem Mãos dadas, união Juntos somos fortes Somos um Mostrando para o mundo Que lá no fundo O amor venceu Olhares de admiração Raiva, reprovação Por todos os lados Por todos ângulos Felicidade incomoda Tudo é uma troca Boa sensação Olhos vendados Boca amordaçada Ameaça, agressão Tudo isso e mais um pouco Ainda é pouco Para quem apenas quer dar a mão Luz Para quem vive na escuridão

Passou

  O ano passou e só o Luiz não viu Escreveu um livro Tocou guitarra Bebeu cerveja Deu de cara O ano passou Mandou mensagem Correu na esteira Fumou um cigarro Comeu besteira Ouviu Bruce Springsteen Cantou com o Renato Discutiu política Doou para o orfanato O ano passou e só o Luiz não viu Visitou os pais Pediu uma pizza Convidou os amigos E umas amigas Contou histórias Foi ao botequim Muitas vezes disse não Outras poucas disse sim Fez faxina Bagunçou o quarto Quebrou garrafa Tomou no gargalo Pediu autógrafo Saiu do Rio Depois voltou Ouviu Cazuza Fez poesia e chorou O ano passou e só o Luiz não viu O ano passou e só o Luiz O ano passou e só O ano passou O ano

Diversão

  Eu querendo algo mais Uma loucura necessária Você no automático Sem tempo, com pressa Empurrando com a barriga Que não para de crescer Para continuar vivo Não precisa morrer O mais cômodo Acomoda Todo mundo gosta de paz Mas guerra também é gloria Eu quero é diversão Salada de fruta Variadas, sortidas Brincadeiras estranhas Imagens esquisitas Eu quero amor Eu quero um pouco mais de vida Comida sem sal Sem tempero Não faz bem Também não faz mal

Silêncio

  O vidro da janela está trincado Faz tempo Assim foi ficando Rotina A torneira continua pingando Molhando o chão da cozinha Seguimos nesse ritmo Apenas seguimos Todo dia pego em sua mão Conto histórias, falo com os olhos Converso com seu coração Para distrair Música de amor Com todo amor Para você não partir Para distrair Música do Pato Outros bichos Para sempre você aqui O barulho do silêncio É perturbador Continuo cantando Aquela canção de amor O vidro da janela está trincado

Matemática

  Conto dias Somo horas Divido meu tempo Multiplico o agora E agora estou pensando em você No chão sou um tapete Na varanda sua rede Para seu corpo relaxar Nossa matemática não é exata Pois só sei perder Para o seu prazer de ganhar Na ponta do lápis Eu sei que estou devendo Meu dinheiro, tempo Minha alma Vou pagar com juros Eu juro Talvez no final do ano Só quero continuar Em todos os seus planos Estatísticas não mentem Toda vez que respiro Venero sua presença Sigo os seus passos Tudo que faço É acreditar na crença Que não existe amor no pecado

Lágrimas

  Norte, sul Leste, velho oeste Na direção do sol Passos curtos Estudados Seguindo o cheiro Ouvindo o coração Tateando paredes Em claro Árdua solidão No ouvido Um mosquito Zumbido Quase um grito Coragem Lá se foi mais um dia Missão dada É missão cumprida Nos sonhos é anjo Na vida estrela guia Sua pele, sua cor O caminho de toda dor Não tem luz Mas têm lágrimas Não é preciso enxergar Para simplesmente chorar

Dor

  Lábios mordendo lábios O amor é tão violento Machuca o prazer Gota de sangue Explodindo no chão Dor de enlouquecer Línguas são espadas Afiadas Cortando sentimentos Unindo sensações Precisamos desse tempo Bons momentos Boas provocações Todo encontro é um acidente Muito grave Vivemos de trombadas Pancadas Somos feridas abertas Doença sem cura Todo bom desejo É um instante de fúria Mão que aperta outra mão Que aperta o pescoço Cada um com seu gosto

Armas

  Meu olhar é um tiro Tentando atingir seu coração Em cheio, bem no meio Não tenho flecha Não sou cupido Não tenho esse talento Eu não tenho não Minha palavra é granada Feita para explodir Atingir seu corpo Deixar marcas profundas Vontade é arma engatilhada Pronta para disparar Acertar o alvo Simplesmente machucar Já o silêncio é fatal Fala muito Não esconde nada Cara fechada Revela tudo, tudo Não existe máscara Sou um livro aberto Com texto bem escrito Sem nenhum rabisco Falo com todas as letras

Telas

  Mulheres nuas Em seus quadros Em seus quartos Garotos são lobos Lobisomens Uivando em pequenos cômodos Olhos fechados Esquentando suas mãos Poses, closes Divas da solidão Mulheres e seus vestidos Longos, curtos, bonitos Sonhos e pesadelos Nos gostos e nas dúvidas Dos gigantes meninos No silêncio dos castelos Heróis donzelos Molduras na parede Toda noite muita sede Vontade de voar Estranhas criaturas Invadindo mentes Desenhos, caricaturas No fundo da alma Escuridão O brilho ainda não brilha Cores sim, cores não Mulheres nuas...

Sonho Ruim

  Renascer Viver depois de morrer Luz que não conheço Despedidas e partidas Idas e vindas Dessa vez é minha vez Hoje sim eu vou Depois do tchau Boas vindas Carta de despedida Aperto de mão Momento único Solidão Hoje é meu dia Último dia Primeiro dia Virei canção Poesia Vou ver os meus Matar todas saudades Vai ser tão triste Não ser verdade Onde estão os irmãos? Onde estão os amigos? Onde estão que não estão comigo? Eu só quero renascer

Estrada

  Pela estrada Vento no rosto Infinito do poeta Chuva, sol Sem pressa Destino incerto Sorriso certo Voando Pela estrada Tantas curvas Tantas retas Procurando o paraíso A vida até parece uma festa Olhando o horizonte O sol está fervendo Vamos nessa Som de guitarra Trilha sonora Barulho de felicidade Alegria de criança Amanhã é tarde Tem que ser agora Alimento do corpo Alimento da alma De braços abertos No peito um vendaval Carregando nossos medos Levando todo o mal

Acordando

  Abrir os olhos Despertar Enxergar diferente Diferente de ontem Noite bem dormida Acordando para vida Tudo está claro Tudo tão nítido Séculos de atraso Enxergando no escuro Mudando o futuro Caminho livre Descobertas Realidade viva Mente aberta Agora sei onde piso Vejo os inimigos Vejo quem não presta Antes tarde Do que mais tarde Do que nunca Observando os falsos Fugindo dos filhos da... Abrir os olhos Despertar Sempre esperto Sempre no radar

Dor

  O amor dói Quando começa Quando termina Quando sai de cima O amor dói Quando está preso Quando explode Quando não existe rima Dói Na cena da novela Na vida real Na realidade paralela Dói No corpo, na alma No pensamento que não dorme Ansiedade que consome Dói, dói... O amor dói Ser feliz, ser triste Enorme sacrifício É preciso superar, lutar Até toda dor passar Dor Para chegar até o topo Para desistir O amor é dor Não adianta fugir

Seu Herói

  Hoje o céu está tão azul Mas não se engane Mais tarde vai chover Leve capa, guarda-chuva Cuidado com os perigos da rua Coloque o Paul na coleira Sirva chá ou cerveja No banco da praça Escute um som O som da mãe natureza Seu cantor predileto morreu O herói você matou O verdadeiro amor Quem sabe ainda não nasceu Bem que eu disse Bem que avisei Realmente choveu Você não obedeceu Saiu sem guarda-chuva, capa Entendo seu gosto por aventura Cuidado com os perigos da rua Avise quando chegar Tome um banho quente Deite no sofá Deixe o tempo passar O céu já não está mais azul É noite

Morto

  Morri Poucos instantes atrás Logo vai saber Alguém vai avisar você Morri Faz alguns meses Sei que ainda pensa em mim Que faço falta Mas é assim Tudo chega ao fim Morri Nem parece Já passou um ano Tinha tantos planos Morri Eu morri Não lembra? Já esqueceu? Nem são tantos anos Foi em um carnaval Ou teria sido no Natal? Então, é isso Morri, apaguei Sumi do mapa Sumi das suas memórias Fui embora Morri Virei Santo Depois um qualquer Hoje não sou nada Não sou mais nada Morri

Tempo

  Dobrando esquinas Quebrando avenidas Correndo por ruas escuras Faço tudo, completamente tudo Por um sorriso seu Nem que seja o último Tento fingir tranquilidade Mas não sei disfarçar Esbaforido tropeço Caio, levanto, continuo Pode ter certeza Eu não vou parar Roubo flores dos jardins Mas não sou ladrão Sou um desesperado Quase um coitado Sem tempo, sem razão Fiquei pelo caminho Sobraram os espinhos Muitas dúvidas Será que fui perdoado? Será que partiu feliz? Será que pensou em mim? Pior que não ter resposta É o silêncio da volta