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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Atestado

  Vou dar uma festa Para meus amigos mortos Os parentes que partiram Os que ficaram nas fotos Vou dar uma festa No dia de finados Em uma data especial Ou qualquer outro feriado Para quem acordou Lá do outro lado Para quem não aguentou Ficar acordado Quem decidiu acabar Com os próprios pecados Música de quem não está aqui Música para animar Toda viva alma Almas vivas Não existe mais pressa O tempo é eterno Viver já não interessa Você está convidado Só trazer o atestado Duas cópias simples Carimbado, autenticado

Surdo

  O que você entendeu Não foi o que eu quis falar O que eu disse Você não soube escutar Quilômetros de distância Sua ignorância surda Palavras ao vento Em movimento Tocando sua nuca Van Gogh enlouqueceu Beethoven correu Você não ouviu Confundiu, inverteu Interpretou errado Levou para o outro lado Quem fala o que quer Ouve o que Deus quiser Conversa falada Conversa fiada Linda quando ouvida Pena tão pouco compreendida O que você entendeu Não foi o que eu quis falar O que eu disse Você não soube escutar O que você ouve? O que houve?

Hora do Intervalo

  Um em cada degrau Amor de escada O começo de tudo Hora do intervalo Turma lá do fundo Sob o mesmo teto Os burros mais espertos Anjos do oitavo andar Morremos antes mesmo Do show começar Eu só quero viver O tempo de uma estação Eu só quero viajar No som de uma canção Só quero viver Levar lembranças boas Estudar nossa loucura Somos jovens Ainda somos jovens O tempo passou E a gente nem viu O tempo já foi E a gente pelo menos sorriu Apenas sorriu

Hora do Intervalo

  Um em cada degrau Amor de escada O começo de tudo Hora do intervalo Turma lá do fundo Sob o mesmo teto Os burros mais espertos Anjos do oitavo andar Morremos antes mesmo Do show começar Eu só quero viver O tempo de uma estação Eu só quero viajar No som de uma canção Só quero viver Levar lembranças boas Estudar nossa loucura Somos jovens Ainda somos jovens O tempo passou E a gente nem viu O tempo já foi E a gente pelo menos sorriu Apenas sorriu

Carnal

  É carnaval Jogue sua folia Dentro de mim Já fez sol Já choveu Ainda estou aqui Tênis, chinelo Pés descalços Olhando para o alto Água por favor Bebida do amor Tudo tão natural É carnaval Jogue sua folia Aqui dentro, aqui Dentro de mim Já é quase noite Quase hora Do relógio parar Música alta Sem calma Vamos amar É carnaval...

Onde Estou?

  Eu não sou daqui Mas conheço esse lugar Só uma rua Só um caminho para chegar Eu não sou daqui Tenho medo de morrer Em um canto escuro Meu corpo cheio de furo Logo quando amanhecer Juro que não é assalto Quero apenas uma informação Como chego do outro lado? Onde está a civilização? Estava perdido Mas achei que estava muito mais Tenho pavor dessa calma Dessa falsa paz Encontrei O monstro de três cores O amor de muita gente Muita gente e seus amores Encontrei O gigante adormecido Alguns dos seus inimigos Seus mais devotos filhos O ônibus já passou O último trem também E eu não sou daqui...

Veja

  Cercado por todos os lados Por todos os lados Eu estou cercado Vejo você nos livros Vejo você quando fecho os olhos Vejo em tudo que vejo Vejo aqui dentro de mim Você faz bem Para meu corpo e alma É toda água Que eu preciso Para apenas sobreviver Desisti de fugir Confesso que nem tentei Rodei e voltei Adoro fingir que não quero Quando o que espero É o saboroso prazer Aposto que vou perder Eu adoro perder Quando o prêmio sou eu Inteiro para você

Fale

  Conte para mim Conte sua história Fale tudo ou quase tudo Vou transformar em poesia Todas suas memórias Vou datilografar Para vender na feira Vou deixar conhecida Sua louca vida Sua vida inteira Vou ficar rico Usando palavras Citando seus amores Vou ganhar horrores Vou declamar em praças Nos piores bares De porta em porta Todos os lares Sou poeta popular Das boas frases Solte sua voz Fale mais, apenas fale Sou todo ouvido O que eu escuto Simplesmente rimo

Os Dedos

  O tempo está contando nos dedos Os segundos, os minutos Para verdade aparecer Não precisa ser louco Nem um pouco Para apenas enlouquecer O tempo é rápido É lento Tem o seu exato momento Tudo em seu devido lugar Não falha Toda hora é uma boa hora Para acreditar Acertando os ponteiros Do futuro e do passado Deus e o Diabo Encontro marcado Tudo dentro de um retrato Quando parece ao contrário Pode estar certo Vire do avesso Descubra o lado Nem todo abraço Termina no pecado Os dedos controlando o tempo

Regressão

  Parede da sala descascada Várias cores Camadas de uma vida Pesadelos e dores Quadro de Jesus e Maria O Rei e seus milhares de amigos Mãe olhando brava Mãos na cintura e castigo Porta com tela Vizinha na janela Pernas para cima Corre lá Mais um acidente na esquina O rádio está funcionando Mesmo todo quebrado Música triste Meu pai está cantando Estou com medo O vento está gelado Vela acesa Galinhada no fogão Chuva na cabeça Cachaça embaixo da pia Para beber, para fazer crostoli Vai ter bolo e brigadeiro É aniversário, é o dia

Brisa

  Por onde ando, borboletas Tudo que eu olho, borboletas Coloridas, imaginárias Dando asas para minha loucura E por onde passo Todos os meus passos Não tocam o chão Sou nuvem, pássaro Sou anjo, avião Passaporte no bolso Vivo viajando Outros mundos, outros planos Planejando fuga Escapando da realidade Sigo Sigo por atalhos Caminhos indefinidos Trem fora do trilho Fumaça, brasa, brisa O pecado mora nas esquinas Meia-noite é ontem, é hoje É apenas mais um dia Borboletas Que moram em minha cabeça Em noites chuvosas Sem estrelas Eu vejo borboletas

Sempre Tudo Igual

  O silêncio do pai Sorriso discreto da mãe Na sala de jantar Mais um almoço de domingo Salada sem cebola Anúncio de gravidez A comida está sem sal Vai ter briga outra vez Os beijos quentes Do filho crente Que prefere outras igrejas Outros iguais Muito desgosto Todo castigo é pouco Cara de tanto faz Papai, mamãe Cada um com seu brinquedo Mantendo aparências Fazendo pose Fingindo não ter medo Televisão ligada Olhares distraídos Outras telas Outros destinos Família com final feliz Ficção, realidade Nas páginas de um livro Hoje paz Amanhã conflito

Pressão

  Eu quero um sol Só para mim Um sol Onde eu possa ficar Relaxar até o fim Dos meus dias Eu quero a paz Das canções bem cantadas Das vozes baixas Quero apenas viver Só um pouco mais Até o fim dos meus dias Pressão Só de tampas e panelas Quero o suave olhar De quem simplesmente anda E sabe que não vai chegar Tempo que resta Vida super curta Vou fazer história Contar histórias Rabiscar memórias Livros, filhos, árvores Daqui a pouco vou embora Eu quero um sol Só para mim

Enfim

  Estou tão alegre Desconfie de mim Estou rastejando Pare de dizer sim Estou quase acabando Enfim Não tem mais jeito Virei anjo querubim Último beijo Acabou, é o fim O perfume já não perfuma, não Meu sorriso já não encanta, não Fui tão alegre Eu fui Já rastejei Acabei Enfim

Clarear

  Já?! Mas já?! Sei que nem tudo é para sempre Mas não precisa exagerar Hoje está com alguém Amanhã sei lá Mas já!? Já?! Sua certeza acaba assim Do dia para noite?! Meio do nada, de novo Tantas juras e promessas E mais uma vez o fim Que seja eterno enquanto dure Cada dia dura menos Televisão, celular, computador Sentimento e amor Tudo tão frágil, descartável Nem bem começou e acabou Fora de moda Estou fora de moda Meu tempo tem mais tempo Sou antes, sou agora Mas posso esperar Por toda eternidade Daqui a pouco vai clarear

Sede

  Eu tenho sede Quando escovo os dentes Acordo cansado Quando durmo ao seu lado Quando estou doente Eu tenho sede Quando trabalho duro Choro no escuro Danço uma canção Grito palavra de ordem Faço uma oração Eu tenho sede Quando tomo refrigerante Quando o sol está em cima Quando mergulho no mar Quando fico de boca aberta Quando não encontro rima Eu tenho sede Quando corro acompanhado Quando vou mais além Quando dou muita risada Quando olho sua roupa Aí tenho fome também Sede, sede, sede Água, água, água Sede de água

Viajante

  Viajou para o espaço E nunca mais voltou Foi conhecer estrelas Lindos planetas Conquistou o universo Conquistou Viajou para o espaço Beijou a face de Deus Disse muito obrigado De propósito se perdeu Mundo sem limites Mundo sem cor Anjos também gostam da noite Perfume das flores O tempo não passa Essa é a graça Eternidade Você pode tudo Segredos revelados Toda alma é livre Para sempre Corpo só no quadro Preso em um retrato Tudo diante dos seus olhos Agora é viver ou viver

Pássaros

  Pássaros nos telhados Decifrando olhares Tiros no coração Casas vizinhas Testemunhas do prazer Tão jovens, tão sozinhos Amor para não enlouquecer Uma guerra perdida Soldados e suas novas famílias O inimigo tem cara boa Toda guerra é sem sentido Mães rezando por seus filhos Segredos fora de controle Descanso depois da meia-noite Todo desejo é perigoso Mortos e feridos Pobres meninos Anjos e demônios Os piores conflitos Sabor de proibido Revólver na boca Libido

Brilho

  O brilho da noite Em nossos olhos Em nossas almas Todos os meus grilos Todos os meus medos Você ajudou curar O brilho da lua Em nossos lábios Em nossa pele Todos os meus defeitos Todos os meus erros Você ajudou melhorar Em lojas, em bares Bebidas, cigarros Beijos e tragos Nosso amor nasceu Para chocar Para fazer estrago Demorei, mas entendi Demorei, mas aceitei Agora sou mais feliz Não enlouqueci Roubamos flores dos jardins Corremos pelas calçadas Vamos por aí, por aí O brilho da noite Ainda em nossos olhos

Gloriando

  Viajar, voar Por outros países Outros planetas Terras, mares E não parar, não Seguir caminhando Dias, noites, anos Por todos os lados Todos os planos Verdades na mala Sorrisos e estradas Céu sem fronteiras Nuvens passageiras Amanhã pode ser nada Correntes arrebentadas Direitos e deveres Onde tem alma Sempre tem gente O que ninguém percebeu Simplesmente o último dia De quem não morreu E quando o relógio Apontar para o infinito Todos são anjos Todos são filhos Pobre Diabo e suas tentações Do destino ninguém escapa Uma hora tudo acaba Boas sensações

Máquina do Tempo

  Tenho medo do futuro Não sei viver o presente Esqueci o passado O passado mais recente Passei dos quarenta Lembro os primeiros vinte Tudo ficou mais triste Máquina do tempo Leve meu corpo Para qualquer tempo Cidades destruídas Onde não existe vida Traumas e dramas Bloqueios sentimentais Doenças carnais Livro fechado Sujeiras e manchas Quantos dias eu ainda tenho? Vou contar nos dedos Hoje é tarde Amanhã é cedo Sonhar acordado Ou chorar no banheiro O futuro tem medo de mim

Vazio

  Casa vazia Cheia de paredes Vozes imaginárias Plantas surdas Cactos sem sede Documento na mão Carteira sem dinheiro Chão frio da cozinha Mesa para dois Panela vazia Rachaduras Telhado de zinco Noite sem estrelas Meia-noite Aranha em sua teia Oficina do Diabo Toda e qualquer besteira O que vem depois Dor no peito Tristeza, silêncio Chinelo virado Ausência Já é tarde Olhos fechados Alma pequena

Rio

  Corro para não chegar Corro para o tempo não passar Fones no ouvido Sons da praia, som do mar Sob um sol senegalês Gente de todo tipo Todo tipo de gente Os mais belos sorrisos Sorrisos sem dentes E no calor do asfalto Abraço largo de um desconhecido Os mais novos velhos amigos Filhos do mesmo Cristo Re-den-tor E quando vem chuva Nuvens escuras Mudam o tom da paisagem Mas é assim, sempre assim Nada esconde A beleza de uma cidade Continuo correndo Para não chegar Salve Iemanjá Iemanjá

Três

  Trio de três Triângulo das bermudas Ângulo oposto Cateto da hipotenusa No palco ou na rua Estacionando no Leblon Ou passando batom Para beijar mulher nua Perna, braço, cabeça Canto suave na orelha Fenômenos da natureza Nuvem, raio, trovão Máquina de moer Alma, calma, coração Garotos experientes Inteligentes Barba branca, cabelo cinza Um que não para de dançar Os mais pensantes De outros planetas Viajantes Línguas afiadas Noites escuras, cantadas Tri-tu-ran-do dentes Donos das palavras

Play

  Janela aberta Mundo fechado Gente estranha Caretas Desceu no play E não sabe brincar Entrou no jogo E não sabe jogar O que adianta viver E não ousar Seja louco em turma O discreto na rua Será? Não tenha vergonha de ser feliz Do início ao fim Beije E algumas vezes diga sim Cause, case Com o seu amor Ou não Ame seu corpo Seja como for Livre, leve Viva Nunca tenha certeza Apenas seja... Livre, leve

Provocação

  Gosto de emocionar Fazer você sorrir Fazer você chorar Gosto de provocar Vou provocar seu coração Invadir seu pensamento Morar em seus sonhos Gerar bons momentos Sou poeta, um profeta Da palavra fácil Do pouco tempo que resta Vai ficar de boca aberta Querendo mais Pedindo um pouco mais Vai querer conhecer Vai querer tocar Meu corpo, seu corpo Não adianta resistir Tentar esconder Seus lábios entregam o desejo Que corrói você Mesmo em silêncio Mexo com seu barulho Sou o dedo no gatilho O que tem de mais profundo