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Mostrando postagens de maio, 2022

Cena

  Está chorando Na frente de todo mundo Para o grande público Anônimos, desconhecidos Poetas, músicos Sua lágrima vai virar canção Respeito seu silêncio Nem te conheço Você tem todo tempo Deite aí no chão Vejo sua cena Tenho até pena Mas esse é o roteiro Quando não termina em beijo O fim é solidão Não importa o motivo Tristeza sem filtro Todo mundo é meio filho Sem mãe, sem ombro amigo Quem vê cara, vê coração

Cores Infinitas

  O chão é o seu céu Passa por cima Pisa sem dó Divina divindade Beleza rara Amor que amarra Boca que desata nó O céu é o seu espelho Brilho, reflexo Viagem no tempo Dentro do seu olhar Mergulhar Braços abertos, de joelhos Perfume de brisa, de mar Quadro de Van Gogh Seu passado, uma tela Hoje aquarela Suas cores infinitas, distintas Saudação, beijando suas mãos Um gesto para cada sim Outro para cada não Sua realidade Meu sonho mais bonito Imagem distorcida Maldade ou vida Sangue, ferida Minha cara, sua alegria

Tardes Frias

  Morreu de tanto amar Morreu de tanto amor Morreu feito poesia Rimando flor com dor Morreu de tanto sonhar Morreu ao acordar Morreu feito poesia Lindas palavras, boas rimas Morreu igual terra seca Árvore sem fruto Clandestino sem um puto Morreu sem cair De olhos abertos Ferido por dentro Sem tempo de fugir Morte matada, morte morrida Morte em vida Um plano, uma trama Uma ideia mal construída Após um café curto Olhou para o infinito Cantou Belchior Terminou com um grito E continua morrendo Em tardes frias de domingo

Azul

  Tudo ficando azul Meu pai com sua barba longa Parece ser o fim Pode ser o meu fim O mar está sem ondas Não tenho mais inimigos para lutar É hora de decidir Quebrar os ponteiros Ou deixar o tempo para trás Eu não sou daqui Não sou desse lugar Vou voltar Para o meu primeiro lar Vou para casa de mamãe De onde nunca deveria ter saído Atrás do seu umbigo Sou paz, sou o seu filho O som da gaita é tão triste Dizem que a morte não existe Então para onde eu vou? Para onde eu vou? Eu não sou daqui Aqui não é o meu lugar

O Sol Que Está Brilhando

  Noite rebaixada pelo sol Que brilha, brilha Estacionamento de alegria Agora posso ser um pouco mais feliz Agora sou mais feliz Ouvindo o som do sim Agora é tentar, não errar Correr atrás Flores que comprei, guardei Por tantos anos esperei Não entreguei, chorei Hoje tudo está diferente O sol está brilhando tanto Parece até aquele dia Bons tempos, momentos Agora estamos em uma nova fase Amor, amor e poesia E quando o sol vestir seu véu Quando virar lua Já não é mais como era antes Agora é muito melhor Tristeza, toda tristeza Cada dia mais distante

Raiva

  Tenho raiva de mim Tenho raiva dos meus atos Não aprendi com meus erros Fui mal acostumado Tenho raiva de tudo Tudo que não faz bem Mas que eu aceito sem reclamar, lutar Raiva de mim e de mais ninguém Eu tenho medo de mim De tudo o que sou capaz De fazer com a cabeça fria Eu sei o principal caminho Cada gesto, cada passo Momento exato Sei muito bem engolir você Para o meu doce louco prazer Zoológico de vidro Nessa jaula sou bicho Curtindo meu castigo Nó na garganta Pulsos cortados Clima pesado Já tirei o uniforme Ninguém mais fala o meu nome

Todo Dia

  Todo dia uma mudança Todo dia um novo olhar Todo dia um bom dia Todo dia eu quero estar Junto com você, com você Ensinar e aprender Ensinar com palavras Aprender com seus sinais Entender que amanhã Tudo vai estar diferente Essa é a graça, toda graça Criança virando gente Vou soltar sua mão Mas não vou sair de perto Vou acompanhar seus passos Estou sempre ao seu lado Quando quiser, sempre Volte para os meus braços Vou ficar bem, está tudo bem O mundo tem o seu tamanho Felicidade é um plano Viva e seja feliz, sou feliz Aqui apenas observando

Século

  Nossa diferença, nossas diferenças Você vinte e dois Eu cento e vinte dois Um século e muitas crenças Monstros e doenças Estamos aqui, ainda estou aqui Nasci e morri tantas vezes Agora sou eterno, sou presente Sou o amor O amor que você sente Dormi uma noite Acordei anos depois Você ainda com vinte e dois Juventude que não cansa de nascer Perdemos o medo de ter medo Medo de sobreviver O reflexo no espelho Esse corpo ainda é meu Muito seu Até o fim dos dias Até o fim da humanidade Gostamos de viver nossas manias Um labirinto sem saída Não podemos voltar para o início No jogo da vida pulamos três casas Ou chora ou abraça Você vinte e dois Eu cento e vinte e dois

Deus

  Eu vejo Deus no bom dia No obrigado, no sorriso No rosto triste Dentro da solidão Eu vejo Deus nas nuvens Na mulher com sua bolsa No grito de perdão Eu vejo Deus, eu vejo Na garoa fina Na droga que brilha Na maldade, na sinceridade No que diz amém Na fé do seu axé Eu sinto Deus Quando estou com roupa Com roupa errada ou sem Eu sinto Deus, eu sinto Dentro da sua raiva Na canção que não acaba Na voz da cantora Quando tem morte Quando perco toda minha sorte É preciso tentar Não tem problema errar Quem arrisca Deus não castiga

Mentira

  Quanto tempo dura uma mentira? Quanto dói uma verdade? É preciso ter coragem É preciso saber lidar Dignidade Pode ter até palavrão Na cara, direto Ninguém gosta de agressão Que você entenda Minha brisa, meu jeito De dizer sim, dizer não Apontar o dedo Atravessar pessoas Cruzar caminhos, momentos Mudar o tempo Qual é o tempo exato Para cuspir no prato Que o inimigo comeu? Minha honestidade Em xeque, em jogo Chorar ainda é pouco Explicar o sentido da vida Só Belchior e a bíblia Quanto tempo dura uma mentira?

Eclipse

  Todo dia um eclipse raro Duzentos anos passando tão rápido Vida é um sopro, um raio Luz que ilumina, luz que apaga Amanhã logo vira ontem É preciso pressa, urgência Não temos todo o tempo do mundo Não temos tempo Para distrair com bobagens Para errar o chute, acertar a trave Hoje é tudo, tudo Rumo ao desconhecido O fim é um precipício Mas é preciso pular, mergulhar De cabeça, sem medo Para aprender flutuar Eternamente jovem Vivendo ou morrendo Seja estrela, brilhe Mesmo depois da partida Todo instante é uma despedida

Copos

  Copos encontrando copos Garrafas tombando Piano bar, bar Mar de gente, lar Bêbado é chato Mas sempre tão sincero Doses de sarcasmo Fumaça para o alto Um instante, um segundo Da mesa para o asfalto Nunca estamos satisfeitos Com a primeira foto Mais alguns goles Ficamos bonitos, lindos Gargalhando sem motivo Beijando, correndo risco Noites longas, vidas curtas É preciso viver Desce duas, mais uma Logo três Nossa cara na capa Chapada em todos os jornais Colunas sociais Copos encontrando copos Um brinde Até amanhã ou nunca mais

Fome

  Morreu e não matou sua fome Viveu com sede de amor Foi ao limite, até onde deu Mas uma hora não deu Apanhou Dor na alma Engasgada com nada Cor da noite, pancada Quarenta graus Mesmo assim teve frio Tudo girando Movimento estranho Estômago não dormiu Só estava roncando Morreu e ainda sonhando Mais um corpo no asfalto Coberto pelo jornal do dia Manchetes trágicas Tristes notícias Lutou, aceitou, desistiu Morreu e não matou sua fome Em um país chamado Brasil

Clima

  Música para esquentar o clima Mas quando a gente esquenta Não escutamos mais nada Nenhuma palavra Música para dormir abraçado Em silêncio, agarrado Nossa música no rádio Volta logo para o meu lado Nosso amor, balada romântica Nossa casa cheia de plantas Toda noite um suco, uma dança Antes do boa noite Lua em transe, transa Meia-noite, geladeira aberta Sobremesa Depois da refeição principal Guloseima Cama ainda está quente Ainda estamos quentes Um incêndio, uma fogueira Vaidades, todas verdades Vontade, nossas vontades Uma música para esquentar o clima

Capela

  Meu trabalho Meu escritório Meu divertimento Gosto do silêncio Interrompido pela chuva No telhado de lona Inspiração Capela antiga Viva Frei Galvão Letra, minhas letras Meus papéis, anotações Colorindo versos Novas canções Qual é a cor do amor? Desenhando, sublinhando Lápis de cor Sou uma máquina de escrever Letras borradas Nada se apaga Não existe borracha Manhã, quase madrugada Na parede um relógio O tempo é estranho Igual aquele objeto Pesado na estante Daquele tamanho Caiu, quebrou Estou aqui, não machucou Em cima da mesa Disposição Beleza particular Resultado de tudo isso? Composição

Tempo

  Tenho um plano Dormir ouvindo sua voz Cantando só para mim Tenho um plano Sonhar e não saber Realidade ou imaginação Delírio inconsciente Acordar tão bem Também, eu gosto O seu som de mar Tudo que está por trás Desse seu misterioso olhar Sou feliz, sou Seguindo suas pistas O que você indica Observo os pássaros, astros Distorção Ainda tenho planos Alguns, por anos Quanto tempo O tempo leva Para despertar? Morrendo ou dormindo Essa voz, meu pai Só mamãe acordou Sou eu, seu filho

X

  Busco palavras nos livros Inspiração Quando estou sozinho Precipício, vou Sem nenhuma indecisão Sem correr perigo Apenas para sentir o vento O vento é o tempo Que passa deixando suas marcas Direto, sem curva, na lata Inesquecível O coração de um poeta Para sempre, sensível Nem tudo que eu falo É para chamar atenção Sou fã do mistério No fim de toda canção Todo mundo é meio Renato Toda noite Legião Um título, uma incógnita O X da questão

Janela

  Flores na porta de casa Quem ainda gosta de mim? Olho pela janela, silêncio Rua vazia, ninguém Aqui trancado respiro Estou vivo, até quando não sei Só consigo dormir Depois das três Aceito amor, não caridade Enquanto tenho tempo Enquanto o mundo tem vontade Dou um espirro, tenho febre Escuto que tudo vai melhorar Será que o melhor vai ser Quando tudo acabar? Volte sempre, volte Quando quiser Quando quiser é só aparecer Não precisa se esconder Aceito suas flores Aceito em seus braços Morrer

Fuga

  Cansou de ser mãe do marido Filha dos filhos Simplesmente cansou Deu um terrível grito E partiu, partiu Sem rumo, sem roupa Lindamente louca Foi por todos os lugares Atraiu todos os olhares Nua e crua Passou no boteco Virou dois copos Mandou pendurar Continuou sua caminhada Completamente pelada Nem pensou em chorar Sem vergonha, sem pressa Dobrou esquinas Dançou em uma favela Mais uma parada curta Aplaudida, vaiada, xingada Só não é uma filha da... Dizem que ainda está por aí Nunca mais voltou Virou lenda, história Parece que caminhou Para outro lugar da memória

Que Agora São Meus

  Nítido como um sonho Distorcida como a realidade Imagens familiares Rostos conhecidos Quem é parente? Quem é amigo? O que estou fazendo aqui? Quero tocar sua face Face de Deus Vou morar em abraços Imaginários Que agora são meus Ainda estou aqui Cuidando de quem ficou Quem chegou depois E juro que vou voltar Para esse desconhecido lugar Muito prazer, foi bom rever, saber Como estão vocês Vou embora com a chuva Vou correr pela rua Acordar e viver Até um novo amanhecer Nem tudo ainda foi dito Estrelas moram no infinito

Poetas

  Todo poeta é um observador Enxerga o que todo mundo olha Mas quase ninguém vê Poetas são tímidos, infinitos São árvores frutíferas O louco que não sabe enlouquecer Muitas chaves, uma porta Palavras precisas O poeta atravessa o mundo Enquanto o mundo dá voltas Pelo sol do meio-dia Contra toda e qualquer dor Poesia No papel, na cabeça Uma linda cena de cinema Tudo tão inspirador Poema para quem gosta Para quem não gosta Daquele velho estranho amor O belo e o grotesco Tudo melhora com o tempo Ou não, não Nem sempre é um dia bom

Cinza

  O dia está cinza Tão lindo Vento que sopra Minha casa, meu refúgio Em um canto da cidade Você lá do outro lado Café ou chá Nesse frio cai bem Cai bem também Vapor de chuveiro Grudado no espelho Logo após o crime Facadas, sangue na parede Corpo em pedaços O prazer de morrer Em suas mãos e braços Apenas um plano Nada decidido Possibilidades É preciso coragem Garoa fina Acho que vou Sim, eu vou Pode esperar na esquina?

Mamãe

  Mamãe sente falta Do meu beijo de boa noite Não é culpa minha mamãe Foi Deus quem quis assim Deus e sua turma Conheci Adão e Eva Anjos rebeldes com suas harpas Mergulhei em nuvens de chuva Vi vovozinha dançando São Pedro cantando no chuveiro Mamãe hoje não tem beijo Mas estou sempre por aí Continuo meio doido Mas juro que não morri Mamãe, mamãe Hoje vou cantar Uma canção de amor Vou ensinar palavras novas Vou dar um show O céu está tão azul Não vai ter raio Não vai ter trovão O paraíso é meu palco Toda plateia é uma multidão Mamãe Eu não vou voltar tão cedo Acho que não vou voltar Mas vou deixar reservado Para você o melhor lugar

Amargura

  Rua da amargura Sem número Sem esperança Rua da amargura Escura, cheia de tristeza É aqui que eu moro Com dor de cotovelo Onde rezo de joelhos Esperando tudo acabar Sarjeta suja, nojenta Minha sala de jantar Um brinde Copo de plástico, requeijão Nem carne, nem pão Só aquele do Diabo Desventura Lugar para morrer, viver Na rua da amargura Pesadelo Meu mundo real Não tem asfalto Pedras pelo chão Feridas abertas Na rua da amargura Não existe paz Muito menos festa Escuto minha respiração Meu sofrimento Rua da amargura Solidão

Wi-Fi

  Ficção científica Deus na ferida Alguém controlando Alguém no controle Todos meus passos Vigiados, observados Não tem certo, não tem errado Sou uma cobaia Sou o outro lado do espelho Quantas vezes eu pisco? Quantas vezes falo? Quantos vezes eu penso? O que eu penso sem motivo Está tudo escrito, descrito Sala de comando, botão vermelho Para acabar com tudo Para encerrar o mundo Lágrimas Líquido estranho em meus olhos Sangue colorido artificialmente O que eu tenho em mente Controle remoto Wi-Fi Vou até onde ninguém vai Sinal de celular Todas as antenas, redes Robô também tem sede

Olhos Verdes

  Seus olhos verdes observando Estou atrás de grades Disfarçadas, imaginárias Sou um prisioneiro, detento Livre sem liberdade Os dias são longos e arrastados Noites são quentes e aos pedaços Seus olhos verdes atropelando Todos meus sonhos Minha mãe continua chorando Tento, mas não consigo fugir Escrevo e tudo você lê Falo e tudo você escuta Sua presença incomoda Não acostumo com sua moda De maltratar, matar Meu pai também chora Cadeira e chicote O bicho feroz é você Domador do grande circo Meu corpo, meu espírito Apanha sem prazer Os seus olhos verdes Será que hoje vou morrer? Prefiro você de olhos fechados

Dor

  Eu tenho dor No corpo, na alma Hoje acordei assim Não queria acordar, mas acordei Não queria chorar, mas chorei O pai foi comprar cigarro Não fumava e não voltou Doem minhas pernas, mãos O soro caseiro já acabou O amor aqui é diferente Nem queira entender Também não estou com paciência Para parar e explicar Quem sabe outro dia Quem sabe em outro lugar Tenho boas ideias Mas todas reprovadas Será que estou errado? Aprendi não olhar para trás O que passou não vai voltar Nunca mais Continuo com muita dor Sigo em frente Sei fingir que sou gente Mas fico tonto com o calor Vejo nuvens escuras Parece que vai chover Certeza que vai É hora de voltar Minha mãe está sozinha Sempre Ela é boa em fazer magia Faz alguns milagres Olha para o céu, fala palavrão E sorri na fotografia

Sol

  Vamos aplaudir o sol Nosso Deus sol Vamos sair da fumaça Vamos mostrar nossa cara Apresentar o amor Vamos de mãos dadas Pela areia da praia Pelas beiradas Contra o ódio, a dor Contra tudo, contra todos Vamos apresentar o amor Bebidas, apenas um copo Duas bocas, o mesmo vidro Em caso de emergência Quebre o silêncio Aceite e corra o risco Acertando os ponteiros Corrigindo os erros Dos outros, não os nossos Já passamos dessa fase Amor é um entrave Para quem não sabe amar