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Mostrando postagens de janeiro, 2020

Muro Azul

Um vândalo qualquer (Com bom gosto) Pichou uma frase de Cazuza Em um muro azul De uma rua sem graça Rua que ninguém passa Lá na zona sul Tua piscina tá cheia de ratos Queria eu ter piscina Só tenho os ratos Também tenho algumas tristezas Muita vontade e poucos gastos Quem não tem dinheiro Qualquer Havaianas vira sapato Eu ainda tenho vida para viver Tempo para pelo menos dois cigarros Já não ando mais o que eu andava Não corro mais o que eu corria Sou gasolina longe do carro O sul distante da Bahia Quero ser o assunto mais comentado, O mais falado Na boca do povo ter fama de louco Valer mais de um milhão Ser procurado vivo ou morto

Quem é Você?

Qual o seu nome? Quem é você? Que aponta o dedo E diz o que devo fazer Não nasci ontem Não preciso do seu palpite Sou da noite E quem é da noite Atropela antes de ser atropelado Passa por cima antes de ficar por baixo O mundo já não aguenta mais Pobres coitados Suas lâmpadas não brilham mais do que o meu sol Sou o infinito Não tenho limites Não é você que vai me limitar Esqueça! O meu plano é sempre voar O seu veneno não me atinge Meu corpo é fechado Você bateu em porta errada Estou bem protegido Estou na outra calçada

Frio e Calculista

Gosto do frio Eu sou o frio Frio e calculista E isso não é nenhum defeito Não precisa ter medo O frio também sabe ser quente Na hora certa, no momento exato Completamente indecente Faca na mão Entre os dentes Fio da navalha Pescoço da vítima Beijo de lado Amor doente, não doentio O frio é acolhedor Nunca vazio

Só Sampa

São Paulo e suas esquinas Famosas, anônimas Seus anjos e demônios Fantasmas vivos Trabalho e pecado Do mesmo lado No alto dos seus prédios Suicidas, artistas Nos faróis malabaristas Garotas nos trilhos Das tribos, dos brincos De todos os prazeres Muros separando nós contra eles Garoa que vira enchente Do sol que racha asfalto quente Minha cor, só mais uma cor Entre tantas, entre tanta gente Ruas dobradas, ruas Esticando suas calçadas Seus jardins, poucos jardins Muitas moradas Mãos para alto Mais uma dança da moda Ou mais um assalto O sangue ferve, é muita maldade Viver e morrer É tão difícil sobreviver na cidade

Elegante

Não sou elegante Não tenho charme Não sei cantar Não uso roupas novas Não faço pose de galã Moro em qualquer lugar Sou um velho cansado Cheio de histórias Toda noite escrevo um livro Conto minha vida inteira Páginas e capítulos Textos proibidos Já não consigo mais sonhar Toda manhã é um novo suicídio Gosto de poesias Sujas, safadas, sem regras Papo barato, marginal Bêbado na sarjeta Meu duplo sentido é triplo, Sem medo Gosto da cor azul Da escuridão que não é preta Sorrir é fácil Difícil é ser triste e aceitar Felicidade até existe Mas acaba na primeira esquina Enquanto busco rima Controlo o choro Não acredito, mas não custa nada rezar

Elegante

Não sou elegante Não tenho charme Não sei cantar Não uso roupas novas Não faço pose de galã Moro em qualquer lugar Sou um velho cansado Cheio de histórias Toda noite escrevo um livro Conto minha vida inteira Páginas e capítulos Textos proibidos Já não consigo mais sonhar Toda manhã é um novo suicídio Gosto de poesias Sujas, safadas, sem regras Papo barato, marginal Bêbado na sarjeta Meu duplo sentido é triplo, Sem medo Gosto da cor azul Da escuridão que não é preta Sorrir é fácil Difícil é ser triste e aceitar Felicidade até existe Mas acaba na primeira esquina Enquanto busco rima Controlo o choro Não acredito, mas não custa nada rezar

Vilhena

Paisagens, Cenas, Momentos de emoção O sol, o sol Que vive tentando roubar o seu brilho Bom ladrão Natureza gosta de curvas Todas curvas, suas curvas Simetria do seu rosto, Bom gosto De Deus é amor, É amor Perfume da flor, Da flor Pássaros, céu azul, dia lindo Vamos nessa, vamos indo Praia, areia, mar Sem você não tem ar Não tem paz Não tem mais, Não tem mais sentido

Lenda

Nossa história de amor Um filme que não termina Algumas vezes terror Outras vezes comédia Somos atores principais O casal na última cena O beijo mais romântico O drama sem açúcar Momentos quentes Lágrimas na plateia Aplausos indecentes Cinema de shopping De bairro, de centro Estamos dentro de uma película Nada justifica O prazer sem dublê Sem luz, sem câmeras e com ação Final feliz é tão clichê Trilha sonora Charlie Chaplin não precisa de legenda Boas histórias são raras Baseado em fatos reais Todo o resto é lenda

Idas e Vindas

Passo por pessoas Imagino pensamentos Quem é feliz ou triste? Quem vai ter vida longa? Quem vai descobrir doença? Será que um dia vou reencontrar o mesmo olhar? Sou psicólogo de almas Conheço tudo de traumas Nunca volto pelo mesmo lugar Enxergo cabelos Muitos, poucos, nenhum Todos os pés Saltos, sobressaltos Crentes, descrentes, gente sem fé Vejo verdades Enxergo mentiras Quer dizer, nem sempre É tanta gente Mas ainda não conheço um por cento do mundo E nem vou conhecer Todo dia é um bom dia Um bom dia para morrer Escuto muitas vozes Outras vezes tento escutar Tem também voz do coração Muito barulho por nada Minha caminhada Termina sempre em solidão

Pedra

Pedra não tem coração Mas coração tem formato de pedra E se meu coração fosse pedra Na vitrola tocaria Nando Reis Para pedra ficar leve, Para virar pomes Pedra não tem cabeça Mas quem pensa é pedra Das nuvens caem pedras Do meu corpo também Tenho pedra de estimação No bolso, na gaveta, no sapato Tenho amor pelas pedras Faço amor na pedra Pedra não emite som Meu caminho é de pedra Brinco com pedras Mesmo não sendo Drummond

Favor

Nada mais charmoso Do que soprar fumaça de um cigarro Olhar para cima Virar o rosto de lado Dar um sorriso safado Gosto do seu ciclo vicioso Do seu mundinho fechado Seu abraço quente Depois mais dois cigarros Elegância é com a gente Na cama, Corpos em uma dança frenética Sem freio, sem medo, sem ética Somos artistas Cheios de poses e closes Amores, amor Mais um cigarro, Ou dois, ou três, Por favor

Boatos

Estou ouvindo boatos Papos bobos Mentiras sobre mim Dizem que não sou mais o mesmo Que mudei Que não estou mais a fim Jamais! Eu quero mais Quero devorar você Repartir, dividir Um pouco de cada vez Vamos traficar amor Transar prazer Ainda faço loucuras Ninguém imagina o quanto Enfrento caretas, escapo dos fanáticos Prefiro ser lunático Quer provar ou vai correr? Sigo estragando o bom caminho Pisando em flores mortas Esquecendo minhas chaves em sua escrivaninha Meu olhar sempre diz tudo Diz até o que pouco importa Um doce para quem acertar O meu pensamento Doce para engolir Deixar o corpo leve Enxergar animais imaginários Sorrir, apenas sorrir E flutuar

Obra

Eu tenho medo De um dia não conseguir Colocar no papel tudo que sinto Eu tenho medo Que seja tarde demais Que o infinito seja o lugar mais perto Tristeza não é passageira Vive aqui de mala e cuia É caneta que cai da mão do poeta Canção que faz chorar Reflexo naquele espelho sujo e manchado É Narciso que não cansa de namorar Gosto sempre de ouvir O compositor explicando sua obra Mesmo sabendo que em minha cabeça Palavras entram e eu mudo toda história Faço muito barulho quando estou em silêncio Você diz que gosta tanto de mim Que não seja igual o amor de Brutus pela Olívia Nem do gato pela areia Muito menos da rosa pelo jasmim Faz tempo que eu sei quem eu sou O detestável cantor de rock and roll Faz tempo

Rita LeeVre

Nos meus braços um filho No seu ventre também um filho O vigia um grande filho Todos filhos da pátria Quantas noites eu chorei Quantas horas eu contei Para acabar com esse show de palhaços tristes Luta que só um lado apanha Triste loucura, triste dança Flor para quem não é do amor Amor para quem provoca dor O sol é para todos, Sombra para poucos O silêncio não combina com quem nasceu para brilhar Coturnos nada sorrateiros É hora de rezar Lembro da cor do seu cabelo Da cor dos seus olhos Sua cara de medo Penso em que te ama Sua mãe, seus amores Fique com o meu carinho Que eu levo o seu pesadelo

Iogurte de Morango

Iogurte de morango Tem o sabor do pranto Da criança que tem fome Que não sabe o que é sorte Que chora olhando para o pai Que tem medo Édipo que era feliz Conhecia todos os segredos Amor de mãe não era só carinho Sempre foi desejo Doce vida, Vida de menino também tem problema Equação, geometria, teorema Na medida certa Todo centímetro vale a pena O silêncio dos inocentes Sofrimento que desperta No fim tudo volta Como era no começo O destino traçado É cruel, não tem jeito Melhor ir acostumando Acordar é o maior pesadelo O vaso em cima da mesa está vazio Flores foram para o túmulo Tudo vai para o túmulo Tudo vira noite Quando o dia está sombrio

Planos

Qual seu plano para o futuro? O meu é continuar vivo Por mais um dia, mais um mês Não precisa ser para sempre Ainda tenho que chorar por amores perdidos Ter medo do próximo passo Olhar o precipício e não pular Encontrar o sonho que foi esquecido Ainda quero conhecer o mundo Andar de mãos dadas Ouvir gracejos e piadas Ganhar o beijo da sorte Chamar o amor de meu amor Escolher o próximo destino Passando o dedo pelo mapa Sexo com muita risada Só preciso ser forte Vou passar o chapéu pedindo um trocado Vestir um terno branco Ouvir que sou lindo Sempre bem alinhado Morrer é um grande pecado Mergulhar e sumir Fechar os olhos e nunca mais abrir Viver é uma rotina O fim pode esperar Todo cuidado é pouco Surpresa acontece em qualquer esquina

Pacto

Eu gosto do sabor doce do seu sangue É melhor que vitamina Sinto o cheiro de longe Quilômetros de distância Encontro qualquer gota de olhos fechados Até mesmo no canto de sua boca Ou o que está guardado Dentro de suas veias Percorrendo seu corpo inteiro Por todos os recantos e quadrados Aproveitando, vamos fazer um pacto? Vamos logo dar um beijo nojento Todo beijo é nojento Ainda dá tempo Beijar até sangrar Cada louco tem sua forma louca de amar

Composição

Você pediu uma música Eu fiz vinte Foi um grande erro Hoje escrevo apenas uma Diretamente para você Ando comendo com os olhos Também com o ouvido Algumas vezes com sua boca Sei que não é fácil Tudo é tão frágil Gosto do perigo Da sua cara boa de louca Em poucas palavras Tento explicar saudade Vejo lágrimas em seus olhos Acho que dessa vez acertei Foi um soco bem dado Um direto, depois um cruzado Seu colo é um trono Onde meu corpo é rei

Planetas

Ando por planetas desconhecidos Faço meus discursos Quase nunca tem público Mas não desisto fácil Pulo muros, invado casas Roubo o jantar Escolho um canto para dormir Logo cedo vou embora Toda hora é hora de partir Lá vou eu para outro lugar Nas poucas horas vagas Leio livros de autoajuda Tenho o espírito leve Não existe frio ou calor Uso camisa apenas em Vênus Minha loucura só cresce Sou um sonhador Vivo não só no mundo da lua Astronauta sem espaço Um pobre coitado, um pacifista Artista das galáxias Toda noite aqui é dia Todo dia é dia de gritar Declamar minhas poesias Fumo um cigarro Sopro na atmosfera Aqui não existe lei Nada é proibido Quem tem um olho só Não olha para o próprio umbigo

Subida do Luto

Ando pela calçada Uma enorme ladeira Língua arrastando no chão Um dia ainda vou morrer Rua do cemitério Conto baratas no muro Minha distração Tem aquela estátua que mostra o tempo Eternidade para quem não está mais vivendo O sol castiga demais Maltrata minha pele Não tenho protetor Pelo menos ainda não descanso em paz Do Pacaembu até Clínicas Triângulo das Bermudas Hospital, necrotério, túmulos Na maca, na mesa, no caixão O Arnaldo só anda de metrô Já está no paraíso, era doutor Minha praia, um asfalto quente Na Paulista tanta gente No alto de um prédio enxergo tudo Do seu samba tão quadrado Do seu povo cheio de orgulho Somos felizes, apesar da cara de luto

Samba do Dinheiro

Nesse carnaval Vou me fantasiar de dinheiro Virar uma nota de três Verdadeiramente falsa Igual minha vida perdida Passando de mão em mão Por bolsos furados Até ser encontrado no chão Dinheiro de bêbado Amassado e rasgado Junto com outros trocados Esperando sua vez No cofre ou na poupança Na roda ou na dança Compra hoje, amanhã talvez Dinheiro não compra felicidade Eu prefiro ganhar Minha felicidade é o seu sorriso E o meu sorriso depende do seu olhar Quando acabar o carnaval Dinheiro sujo é só lavar Na quarta de cinzas Quinta ou sexta Esperando o vendaval

Mais Bichos Escrotos

Os bichos continuam nos esgotos Os escrotos e os fofinhos Escondidos e camuflados na merda Belos e feios, bons e ruins Os animais estão em todos os cantos Com suas carteiras, cartões e dinheiro Alguns travestidos, moralistas e esquerdos Estrangeiros e brasileiros Baratas voadoras Sempre tão rápidas Sobrevoando nossas cabeças Nojentas como você Barata esmagada também anda Rouba, invade e comanda A pulga foi morar no cachorro da madame O coelho fugiu com medo da Páscoa A onça está na nota de cinquenta Todos estão se fudendo Quem é fraco não aguenta Face da Terra Cara de pau Ninguém respeita O mundo animal

Sonhos do Futuro

Sempre sonho que estou morrendo Sempre sonho que estou voando Todo sonho é fora da realidade Imagens distorcidas Dias que não terminam e noites pela metade Meus sonhos são ambientados no futuro Mas com os defeitos e efeitos do passado Sou um sujeito diferente, Sem reflexo no espelho Desviando de aviões Engolindo fumaça dos fumantes Do alto, toda cidade é grande No sonho, a droga é leve Faz mal, mas logo o efeito passa Sai pelo nariz e espalha Pelo céu, pelas ruas O começo que não muda É no fio da navalha Sonho com festas caretas Com língua de sogra, chapeuzinho e vela acesa Mas no sonho pode tudo, Tudo pode Transformo vinho em cachaça O chato ganha graça Para cheirar, o melhor é o de plástico

Limpeza

Janeiro, Começo de ano Dia de arrumar o guarda-roupa Filho na escada e mãe mandando recado Caixa que sai, caixa que entra No rádio tocando Nando Reis O pó ataca minha renite Que nunca está sozinha Sempre vem acompanhada Sinusite E essa calça que você não usa? Mamãe pergunta já colocando na sacola Vai dar para doação Ela muda tudo com seu sim ou não Encontro objetos do passado Lembro de momentos tão bons Alguns outros nem tanto Em cima da escada é preciso ter cuidado Meus CDs ninguém pode mexer Nem nas camisas de futebol Limpar casa é limpar um pouco da vida E nossas vidas estão embaixo do pano Somos partículas e estruturas vagando pelo ar Grudando nos móveis Espalhando alegria, alergia Ainda precisamos respirar Agora vamos parar um pouco Descansar, almoçar Tudo bem normal Depois do café da tarde De pés descalços, vamos lavar o quintal

Inspiração

Sigo buscando inspiração Sigo buscando cura Sou o verbo rasgado Sou fala seca Eu sou carne crua Pele da flor O retrato caindo da parede Temperatura indefinida No inverno também tenho sede O desafio do homem é libertar o espírito Quando o corpo já não tem mais salvação Nada como olhar o mar Distrair por alguns minutos Não ver que o dia virou noite Falar de sexo é complicado Então vamos amar Bloco de carnaval cantando rock Como diz o poeta, tudo bem Não existe desgraça maior Do que um chato limitando outro alguém

Dor de Amor

Que dor eu sinto Por não ser o sol Que ilumina seu rosto Que esquenta sua pele Que dor eu sinto Por estar longe do vento Que espalha seu perfume Da noite que abraça os seus sonhos Bendita seja a água Que percorre o seu corpo E que mata sua sede Feliz é o livro Que sente o toque dos seus dedos Que tem toda sua atenção Que faz bater forte seu coração Vou embora Nas asas de uma borboleta Que desistiu de concorrer com sua beleza

Anjo

Quem explica o inexplicável? Quem explica os mistérios da natureza? Quem explica o pecado Para quem só conhece pureza? Anjo eu levo no bolso Na mente, na carteira Cuide sempre de mim, anjo Vou te amar pela vida inteira Você é meu corpo Minha alma, minha roupa Meu ar, meu grito Faz eu parar para pensar, Contar até três, Escolher o melhor É minha moradia, meu abrigo Minha coragem, meu medo O meu suor De olhos fechados Vou enxergar os seus olhos O brilho que ilumina qualquer ambiente Quarto, sala, cozinha Toda casa da gente Um dia de novo vamos nos abraçar Andar por nuvens de algodão Tomar um sorvete, Atravessar o mar Hoje sou plateia, sou todo ouvido Vou escutar também com o coração Pai, mãe, irmão, filho Doce vida de amigo Espero sempre o fim da solidão Apareça quando bem entender Não precisa marcar hora É só chamar meu nome Meu eterno viver

Traumas

Perdido em um bar Mais uma noite procurando par No chão resto de pinga Minha reputação Dignidade ficou para ontem Sou filho da solidão Mais uma garrafa Também preciso de caneta Vou escrever em um guardanapo Um lindo poema, Uma linda letra O sol chegou e invadiu Coloquei meus óculos escuros Ainda estou no mesmo lugar Muitas drogas depois Mais uma madrugada mais ou menos Bem feijão com arroz Caminho de casa Mais três, quatro paradas Esquinas quebradas Comendo formigas, Lambendo calçada Esperando uma boa alma Que faça caridade Resolva todos os meus traumas