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Mostrando postagens de agosto, 2022

Sombras no Porão

  Uma xícara de café Mesa recheada Lugares vazios, escuridão Lâmpada apagada Dou ordens e não sou atendido Falo e não sou escutado Onde estão os empregados? Passo o tempo lendo notícias velhas Páginas de um livro repetido Sou o vilão de uma novela Um clássico esquecido Gosto de par Mas nasci ímpar Minha melhor companhia O silêncio, o fim do dia Eles não sabem o que estão perdendo Enquanto isso vou vivendo Vou morrendo Eu nasci ímpar Mas gosto de par Um brinde em copo de plástico Para quem está desacompanhado Tristeza nos olhos De quem ficou sozinho no retrato

Espelho

  Amei, Simplesmente amei Outono, inverno Outras estações Chorei, Muitas vezes chorei Noite, dia Flor da pele, emoções Fiz declarações Para portas e paredes Gente estranha, com fome Com sede Flores para os melhores endereços Os piores recintos Mas deu minha hora Vou embora Vou gostar de quem gosta de mim Lá no espelho Alguém que tanto amo Que nunca desejei mal Percorri caminhos perigosos Hoje sei o tamanho do risco Ultrapassei a linha de chegada Mas não parei de correr Agora só depois das seis

Coração de Madrasta

  O vento que leva É o mesmo que traz Amor que não termina Que ninguém ensina Basta um simples olhar E todo dia é dia Todo dia uma conquista É preciso conquistar Cordão umbilical Unindo corações De mansinho, de leve Chegando com calma Mãe de alma Um bom abraço Solte os seus braços E seja feliz Madrasta Ma-dras-ta De má não tem nada Anjo bom, anjo sem asas Confidente, amiga Papo bom, boas palavras O vento que leva É o mesmo que traz O melhor dos mundos Na bagunça boa de um lar Barulho também é paz

Vidas Secas

  O sol está castigando Pai bebendo, mãe chorando Cada filho em um canto O mais velho na igreja O do meio no farol O mais novo ajudando Todo dia tem dinheiro Ninguém nasceu sabendo Aprendeu roubando Que falta faz uma filha Mamãe bem que queria Papai abusaria Que falta faz uma vida O remédio está escondido Lá no alto, longe do alcance Mas perto do pensamento Caminho para ser feliz Está muito calor, muito Sem ar, sem vento Faca com sangue Frango descongelado na pia Era mais uma tarde quente Mais um dia Escureceu cedo, tão cedo Quem matou? Quem morreu? Mistério que ninguém resolveu Ninguém é mais criança Não existe esperança

Rock

  Nossa história de amor Virou canção Uma banda de rock Bem louco, pegando fogo Nossa história triste Em muitas palavras Frases cantadas Vozes da plateia Drogados e drogadas Ameaça virou poesia Lágrimas e alegrias Música proibida Sobre nossas noites Sobre nossos dias Ninguém precisa saber O que eu faço com você Ninguém vai entender Letra cheia de mistério Cada sílaba, cada verbo Segredo disfarçado Camuflado em cada estrofe Igual aquela do Renato Aquela dos vinte e nove

Urna Funerária

  Você é o alvo Está no alvo Fogo cruzado Na mosca Você é a mosca Na mira do canhão Boca na urna Pedaço de nação Charutos e poderosos Fumaça de arrogância Pés para alto, risadas Gargalhadas Alguma coisa bem errada O prazer de nascer E morrer por nada Briga por causa de piada Não caia no papo Do voto certo, do errado Não entregue sua alma Não seja um coitado Não venda sua alma ao Diabo Perfume de desgraça Noite que não passa Propaganda gratuita Só não é de graça Quem é o seu bandido de estimação?

O Beijo

  Bombas explodindo No céu, no chão Fumaça atrapalhando a visão Gritos, som dos aflitos Guerra, nuvem de poeira Gente sem saída Corredores, armadilhas Anjos e demônios Sentados em muros, muralhas Braços atravessando grades Armas de fogo, brancas Pai, mãe, Santas Só o amor pode salvar O mundo acabando A gente se beijando Só o amor vai salvar Rebelião, confusão Silêncio para beijar Vamos voar Sem sair do chão Pedras em nossa direção Bombas explodindo No céu, no chão

Sem Tempo

  Um bilhete sem resposta Um telefonema sem volta É tarde, você foi embora Mensagens que apaguei Palavras que imaginei Não deu tempo, não deu O que ficou agora Simplesmente saudade Vi sol nascer, morrer Vi chuva molhar, alagar Lua linda brilhar Não vi o relógio girar Quando olhei já era amanhã Que falta você faz Amanhã é nunca mais O mundo e suas voltas Agenda com páginas vazias Nenhuma hora livre Será que isso é vida? Tudo acaba na velocidade De uma bala perdida É tanta pressa Gente correndo Parado também é movimento Olhar nos olhos Um pouco de silêncio Vamos guardar o momento

Faca

  Seu amor é faca Cravada em meu peito Navalha rabiscando meus braços Seu amor é veneno Branco igual leite, inocente Que engana crianças e animais Você é planta carnívora Devora minha vida Mastiga e cospe minha paz Amor de mãe, de pai De cachorro, de casais Amor de qualquer jeito De todo o jeito, de tanto faz Amor em uma nave, astronave Em segredo, ao vivo Na casa, na sala Na televisão de um bom vizinho Eu não queria, mas aceito Amor é bom, mas causa medo Nem todo mundo entende E quem entende grita Para os quatro cantos, avisa Apresenta toda sua alegria Morrer um pouco por dia Sua boca, sua língua Transfusão de saliva

Pensando

  O pensador morreu De tanto pensar Pensando em uma saída Não encontrou e acabou Terminou com sua própria vida O pensador imaginou Viver mais uns cem anos O universo foi contra Não deixou, não Mergulhou, afundou Não saiu de uma onda O pensador rabiscou Suas últimas palavras No asfalto de uma rua vazia Cansou de ser árvore Foi vítima da pandemia Dos ignorantes inteligentes Dos saudáveis doentes De uma gente sem alegria Pensar ainda é necessário Pensar é sobreviver

1978

O cachorro está latindo Os meninos estão correndo Pombos no quintal Violência gratuita Sempre tão natural Tem futebol na televisão Bandeira e cerveja Grito calado da nação O trenzinho está sem pilha Papai bateu em sua filhinha Mamãe diz que não errou Meu Deus que alegria Hoje chega o vovô Todos têm medo Do louco da rua Mas os loucos são outros Disfarçados, bons moços Revistas rasgadas, cartas Preciso usar óculos Para enxergar o perigo Para encontrar um novo amigo Eu nasci em mil novecentos e setenta e oito Eu nasci em mil novecentos e setenta e poucos  

Reis

  Reis e Rainhas Guerras frias Noites quentes Mentes vazias Mãos para cima Choro do pai Mãe, filho Fim da família Discurso Palavras bonitas Feias mentiras Flores, revólveres Erros e acertos Coragem e medo Bombas, fumaça Céu sem azul Cinza é dor Toda dor Medalha, placa Foto na lápide Sonho que acabou Uma música Canção de amor Despedida Em paz, sem vida Deus não tem culpa

Bom Exemplo

  Dou esmolas para os ricos Sopro fumaça nas nuvens Ando por ruas perigosas Eu sou o perigo Encanto plateias pelo mundo Piso em jardins bem cuidados Atravesso destinos Sem olhar para os lados Ganho qualquer briga Sem fazer força, sem um grito Leio livros proibidos Minha vida é um livro Páginas rasgadas, rabiscos Obra de ficção, resumo Uma carta mal escrita Palavras traduzidas Um idioma esquisito Vou a festas e velórios Como todo o bolo sozinho Canto parabéns com gemidos Faço rappel no precipício Sou anjo, sou bandido Não sou para o seu bico Desvio de beijos e bocas Desvio do óbvio O bom sabor das manhãs Depois de noites loucas

Descobertas

  Chegou uma resposta Para uma pergunta que não fiz Algo que eu nem imaginava Que existia dentro de mim Acordei, pisquei Já não sou mais como era antes Sou um pouco melhor O mundo gira tão devagar Agora é correr atrás Ser por um instante feliz Chegou uma resposta Para pergunta que eu nunca fiz No céu estrelas O brilho da lua, do olhar Tudo é mais bonito Tudo está mais bonito Depois do despertar Cravos, espinhos Um gosto conhecido Sabor comum, igual Obedecendo a natureza Bem natural Enxergando beleza Atravessando o medo Um espelho, um portal O estranho já não é mais estranho Mãos compartilhando o amor

Rei Nu

  O Rei está nu Peladinho Nunca sozinho Sempre rodeado O Rei está na rua Sendo observado Admirado por poucos Reverenciado por muitos Silêncio e medo O Rei está bem vestido Sob o olhar dos "cegos" Perversos e assassinos O Rei gosta assim Loucos, intolerantes Discutindo entre si Fanatismo sem fim O Rei está gargalhando Ainda está nu Fez seu show, espetáculo Agora olha do alto Observa tudo, tudo O Rei tem medo Sabe que pode ser traído Esfaqueado, tirado no grito Outros querem seu lugar Em todo reino Tem um novo, um velho Também querendo roubar Rei morto, Rei posto Sangue nas mãos No tabuleiro Xeque-Mate, mate Sabor do poder Ego e vaidade

Pesado

  Está pesado demais O clima aqui em casa Todo dia é lágrima Todo dia é ameaça Faca na mão Pulso e navalha Está pesado demais Por que insistir E persistir no erro? Já tentamos de tudo Mas nem tudo é perfeito O que era amor O que um dia foi amor Hoje é apenas medo Ser feliz Está em meus planos Ainda tenho esse direito Ainda temos tempo Ninguém é dono de ninguém Viva sua paz Também quero paz Quero e preciso O prato ainda está cheio Não temos mais fome Acabou todo o respeito Vamos parar por aqui Viver não pode ser Apenas uma questão de sorte Um dia Podemos sentar, conversar Mas nesse instante O melhor é ficar distante Bem melhor Questão de sobrevivência O que era tão bonito Virou doença

Meu Quarto

  O sol invadiu meu quarto Logo cedo estou acordado Nem dormi Cara de sono, óculos Escrevendo tóxicos, cheirando poesias Observando retratos O sol lá fora está tão lindo Eu aqui dentro sorrindo Lembrando um tempo Nossos bons tempos Rabiscando paredes Com febre, com sede O amor pode até ser lindo Mas normalmente é um drama Culpado por tantas brigas Motivo da distância O sol já está sumindo E ainda estou aqui Nessa terrível dança Já sem óculos Sem um pingo de esperança Preciso cuidar mais de mim Antes que seja tarde Antes que seja o fim

Fim de Jogo

  Segundo tempo, fim de jogo No último minuto, gol Já era, não tem jeito Perdi, fui derrotado Você chutou Não foi de primeira Mas nem tive chance Cruzado com curva Sem defesa Nem calçando luva Fiz gol contra, alguns Sua doce frieza Momento certo Entrou de carrinho Mas o expulso fui eu Cartão vermelho Nesse mata mata Quem mata já morreu Já fiquei tantas vezes Na marca do pênalti Bem que você avisou Galera explodiu, comemorou Dessa vez não foi gol É replay Levantou o braço Pediu impedimento Amar é confiar Nem precisa consultar o VAR

Olhos de Djavan

  O verso de uma linda poesia Palavras muito bem encaixadas O segredo de uma fórmula escondida Passei por toda uma vida Tentando decifrar, entender Esse seu sorriso Monaliza Realmente não entendo você Vou tentar de novo amanhã Sei que não vou conseguir Sei que vou perder Tenho olhos de Djavan Dou mil passos para o lado Observo de cima para baixo Viro de ponta cabeça Não tem jeito, não Não consigo Não encontro solução Incógnita, o X da questão Sabor de cigarro Não fumo, mas beijo Isso eu lembro, juro Todos seus movimentos Mas isso não quer dizer nada Nunca fui bom com charadas Código secreto, DNA Fator genético Conhecer intimidade Não é conhecer a verdade

Asfalto

  Um crime na tela Um crime na televisão Um incêndio na favela Culpados e inocentes Mundos tão distantes Realidade cruel Quem não mora no céu O inferno é quente Becos e travessas Pessoas espertas, ligadas O som da quebrada Clima bom ou ruim O não tão perto do sim Da terra para o asfalto O pó virando areia Invadindo praias Nem toda noite É noite de lua cheia Novidades são poucas Poucas são boas Tudo que não presta Tem cheiro de morte Tem cara de festa Um crime na tela

Impossível

  Dormir para esquecer Impossível Alguém já inventou o sonho Cada dia mais real Precisamos conversar Resolver pendências do passado E também sonho acordado Cruzar seu olhar em alguma esquina Ou em uma praia vazia Sob o efeito da neblina Apaguei cigarros em vasos Cantei por alguns trocados Canções de amor Canções que fiz para você Mostrei para o mundo O que no fundo é prazer Gosto de ouvir o barulho do fogo Lembro do seu cabelo de fogo Sua risada antes de enlouquecer Será que ainda vive na loucura? Será que ainda gosta de voar? Será que ainda toma remédios? Será que ainda corre para o mar? No jogo eu sou tabuleiro Pule quantas casas quiser Vou esperar sempre no final Linha de chegada O sonho continua real

Caras e Bocas

  Você pede uma romântica Mas romantismo passa longe de você Tem língua afiada igual navalha Corta, fere, é mortal É cruel, é dura Dedo sempre na ferida Poesia de Cazuza Você gosta de uma bem singela Quem não conhece até acredita É Nazaré fingindo ser Cinderela Toma café com bandidos Manda beijos, troca tiros Pega e rouba ondas do mar Sobe no oitavo andar Faz charme, mostra os seios Apresenta o do meio Faz caras e bocas Sua boca não é para qualquer cara Gosta também de uma pele macia Não precisa ser todo dia Curte anjos, demônios Doces, balas e pornografia Gosta de dinheiro Mas dinheiro não é tudo Furou barriga de abusador Abandonou o papaizinho Encontrou seu caminho Ensinou o professor Seu plano é não fazer planos

Perdão

  Quero o pão e sua carne Seu corpo depois do castigo Braços abertos, erguidos Mãos cheias de sangue Simplesmente dance Olhando em meus olhos Com amor e admiração Venha mais perto, vem Um pouco mais perto Vou oferecer o meu perdão Não tenha medo Eu não vou ter medo Vamos contar até três Depois outra vez Vou rezar sua cartilha Suas regras, sua bíblia Todos os mandamentos Os nossos melhores momentos Santos abençoando O pecado original Somos estranhos, muito Um pouco diferente, mas igual Na saúde ou na doença O que cura também mata O remédio é amargo Mas resultado sempre agrada

Armado

  Espírito quando está armado O crime é certo, certo O cérebro quer sangue Papel vira navalha Qual é sua arma Revólver, espada ou língua? O inseticida mata Mas também ressuscita Aquela barata que já parecia sem vida Porte sua paz, porte o amor Pois o amor é tiro certo Sua boca é um cano Dispara feito metralhadora Em segundos uma chacina Em instantes uma desgraça Violência sem cara, sem nome Totalmente sem graça Bala que sai quente e não faz curva Seu ódio também não Veneno da flor mais bonita Silêncio que agita Um terrível caso de solidão O guarda espalha pétalas O gatilho muito perto das mãos Noite quente, gente com febre Pomba branca na garganta Borboleta que cega Quem muito observa Nem sempre enxerga O espírito ainda está armado

Sol de Caetano

  O sol está queimando Minha pele, meu cérebro Feito música de Caetano O sol está brilhando Feito a mente de Caetano Fazendo música, mú-si-ca É sol de meio-dia na Bahia Terra de todos os cantos Todos os Santos e seus prantos Um prato de Caetano Para matar a fome Retalhos de Caetano Para enfeitar o rico Aquecer o pobre Seu português tão nobre Língua Pátria, mãe Salve seu bom filho Dessa luta que não foge O Brasil que a gente vê Com "s" não com "z" Casa de Caetano Mais um ano e a gente Tentando sobreviver O sol já nasceu e está morando No som, na voz de Caetano

Papel

  No papel minha sentença Meu destino traçado O começo do meu fim Atravessei sem olhar Corri em direção ao mar Mergulhei em lágrimas de sal Nada mais vai ser igual Daqui um mês Não sei se ainda estou Ao seu lado Não solte minha mão por nada Parece que já é madrugada Escuto o barulho da chuva Espantando gatos do telhado Queria estar lá fora, deitado Lavando minha alma Esperando com calma Som dos sinos, anúncio divino Eu juro que volto Vou voltar Para falar dos anjos Sobre o abafado inferno Aquele homem no altar No papel minha sentença O mar não curou minha doença

Ilusões

  Que dia é hoje? Será que já acordei? Estranhos na televisão Estranhos da nação Eu já nem sei O jornal do dia Não tem data Não tem notícia Gritos e berros Casa vazia Som de ventania Mãos no chão Pés no teto Cabeça nas nuvens Sonho, ilusão Pousou um avião Dentro do quarto Será que estou mesmo acordado? Está chovendo Cuspi e veneno Da fumaça ao pó Está acabando o tempo Não consegui desatar o nó Que dia é hoje?