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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Dragões

Meia-noite Só aqui tem sol Tudo brilha Agora madrugada é dia Som de guitarras Rock cortando meus pulsos com navalha Medo já não existe Tudo que é ruim uma hora passa O que me deixa alegre Também me deixa triste O efeito é rápido Sobe, desce Loucura maior não existe Enxergo cores psicodélicas Luzes, sombras e dragões, Alucinações Sou um astro vivo Mas quando estiver morto Vou gerar milhões Já passei dos vinte e sete Mas também faço parte do clube Tenho boas companhias Doentes da confraria Filhos de santos pecadores Na hora da nossa morte Lendas do além Amém

Tudo é Festa

Festa e velório Na sala de casa Tristeza e alegria Noite acordado velando gente viva Velando gente morta Vela acesa esperando alguém apagar Sopro de vida, sopro da morte Não adianta chorar Quem foi embora não vai mais voltar Vamos beber Beber até cair Beber o morto Nos divertir Chorar o leite derramado Mas não adianta fugir O fim é sempre assim E quando o amigo deita O mundo levanta em volta dele Palmas, aplausos, presentes Vida que começa, Vida que termina, Vida que continua, Que pode acabar Em qualquer hora, Em qualquer lugar Sempre vale um último registro Santinho, lembrancinha Um último retrato Começa na sala, termina em carreata Pode ser até um três por quatro

Hora de Partir

Estou sempre preparado Para não estar mais aqui Tenho pressa, Amanhã posso partir Preciso deixar uma obra Pois o mundo cobra Para quando eu não mais existir Sou uma janela aberta Logo estarei do outro lado Quero ouvir minha poesia na boca do povo No grito do mendigo No som das novas bandas Na homenagem dos namorados Um dia vou virar fotografia na parede Uma lembrança, uma saudade O meu tênis vai ficar em um canto Minhas palavras em uma gaveta Guardadas, mas não escondidas Quero ser lembrado até mesmo como santo Só não diga que fui artista E em minha última morada Meu corpo vai virar raiz Quero um epitáfio com frases bonitas Que eu mesmo vou escrever Em uma rara noite feliz

Papai

Meu filho gosta da minha barba grande Fico com cara de pai Meus braços já não alcançam o seu tamanho Meus ombros não são mais para descanso Agora é muito mais É amor, é amar Empurro nuvens para longe Deixo um céu de brigadeiro Para ele que já está na idade De bater asas e voar Sou um carro velho de motor cansado Que vê o mais potente ultrapassar Noites ainda são em claro Esperando para ouvir o resultado Suas investidas, seus pecados Meu anjo, meu pássaro Eu deixo, O vento levar e trazer você de volta Portas e janelas sempre abertas Pode invadir, Sua cama ainda está desarrumada Com seu cheiro, seu jeito Sua cara

O Adeus do Poeta

Era uma sexta-feira Parecia um dia tão igual De natureza plena Sol forte, vento fraco Era quase carnaval Com poucas palavras, quase nenhuma Não deu adeus Apenas partiu Sem destino, sem rumo Não fez charme, não fez espuma Deixou um violão com cordas quebradas Duas ou três canções Um charuto pela metade Chapéu de palha Camisa quadriculada Num cabide de emoções Em uma tarde de abril O rádio falou, todo mundo ouviu O poeta morreu Discreto como sempre, Não sofreu Corri e peguei um trem para qualquer lugar Para seguir os passos De quem hoje é estrela Faz versos e rimas no espaço

Fetiches e Fantasias

Vitrola ligada, Café na xícara Janela aberta para roubar o sol Para imaginar o seu rosto brilhando ao acordar Saudade de pegar o trem Para encontrar o seu sorriso Seu riso frouxo O seu grito, sua bronca Meu cabelo anda tão arrumado Bom era quando você desfazia meus cachos Com suas mãos macias Hoje ando tão triste Tão machucado Vou para o mar Mergulhar pela última vez O sal cura, mas também mata Deixe meu corpo em paz Cansei dessa vida de vira-lata Mas, se por acaso eu acordar em uma ilha deserta Mande papel e caneta Para eu escrever minhas poesias Falar de amor mal resolvido Fetiches e fantasias

Eu Queria Ser Belchior

Eu queria ser um poeta Como foi o Belchior Amigo das palavras Das frases longas Das letras artesanais Queria falar da minha vida Com versos e rimas Emocionar o mundo Juntar os casais Sou uma alucinação Uma imagem distorcida da realidade Da realidade perdida Queria ter o talento que vou ter No dia da minha morte Depois da minha partida Estou mais sem função do que palha de aço na televisão digital Mais decepcionado que ateu encontrando Deus Sou o louco que pulou do décimo andar Mas que aprendeu voar e não morreu Tem muita gente em meu cérebro São tantas vozes que fico até perdido Nada mais é daquele jeito Assim eu não quero

Pétalas

Flores são tão belas no jardim Em qualquer outro lugar não é bem assim No caixão deitadas, Sem cheiro, sem vida Pode ser pobre, engenheiro, artista Pelo menos morto não tem alergia Flores nascem e morrem Quando recebemos já estão mortas São corpos frios com sorriso no rosto São mulheres chorando atrás da porta O que era ontem proibido Hoje está liberado Vivemos em ciclos Somos ainda tão quadrados Adoramos, mas temos medo do pecado Lua de mel, Pétalas feito chuva, neve Caindo do céu Com todas suas cores O vento leva sementes Para novamente, flores

Geladeira

Uma noite de calor Abro a geladeira Não tem leite, não tem pão Nem margarina, nem cerveja Pelo menos refresca Traz um pouco de alívio Mas do nada você surge Com um abraço sensual Agora é mais do que fome Tudo fora do normal Você é meu prato de comida, Meu jantar, café da manhã Meu self-service O alimento mais gostoso, Saboroso Aquela suculenta maçã Eu mordo, Vou morder um pouco mais Vou comer você Mastigar, engolir, digerir Vou guardar dentro de mim O nosso prazer, Prazer que nunca tem fim

Pássaros

Vejo pássaros sobrevoando minha cabeça Seguindo os meus passos Gosto de olhar para o alto Gosto da liberdade O caminho é sempre certo Quando estamos mais perto Do céu Andar olhando para cima Fugindo da realidade De ponta cabeça De outro ângulo Pelos cantos e curvas da cidade Obstáculos eu desvio Nuvens eu ultrapasso Sonhos não têm limites Humanos são feitos de flores Com corações de aço Bússola quebrada GPS desligado Gosto de seguir minha intuição Escuto o vento, vozes Falando em meu ouvido Dobrando esquinas em busca de direção

Menino, Velho e o Cachorro

O menino, o velho e o cachorro Sentados na calçada É noite de natal, Fome e lágrimas Nada muito diferente Apenas mais uma noite normal O velho empresta sua camisa para o menino O menino divide um pão duro em três O cachorro quieto aguarda sua vez Lá no céu, Lua que ilumina toda uma cidade O velho pensa em sua família Mas o que menos sente é saudade O menino ao contrário Sonha ter pai e mãe O velho é seu protetor O cachorro é seu melhor amigo São miseráveis, mas não esqueceram o que é o amor Carros passam, pessoas passam Não enxergam mãos estendidas Até brincam com o cachorro Triste desgosto Dor da alma, feridas O velho abraça o menino Que chora emocionado O cachorro ensaia um latido Papai Noel esqueceu o caminho Três corações e um futuro indefinido Quando o sol chegar Tire o sapato e o paletó Quem está na rua quer o seu tempo, Sua gentileza Não precisa de dó

Cartaz Azul

Vi um lindo cartaz azul Anunciando um show de rock Ingressos baratos, preços populares Uma conhecida banda da zona sul Jovens na plateia Aproveito para declamar algumas poesias Sou um sucesso popular Poeta das periferias Vou lançar um livro Para ser comprado, emprestado ou roubado Quero ver os meus escritos Espalhados por aí Em casas, ruas, morros Unindo famílias Resolvendo atritos O homem de chinelo e roupa rasgada Chora lendo alguns versos Sonha com liberdade Mesmo morando na rua Vive preso, amordaçado É filho da maldade Quero ver minhas palavras Na boca de um cantor Tocando no rádio Emocionando casais Trazendo paz para o mundo Um pouco de alívio para quem não conhece Nunca foi apresentado ao amor

Palco

Noite de lua cheia Artista no palco Plateia não muito quente Música para curar Gente louca, alegre, triste ou doente Noite que está apenas começando Ainda não teve tomate voando O cantor só quer cantar O som da guitarra Rasgando corações Uma versão de rock Um clássico do pop Um show sem imitações Meu microfone Continuação da minha voz Dos meus pulmões Da minha garganta Cantar gritando é qualidade Sou um astro do showbiz Não sou uma planta Antes de sair de cena Vou virar mais um gole Responder provocações Jogando garrafas Cuspindo no chão Não sou um bom exemplo Deus castiga criança que não fala palavrão

Pressão

O calor me faz ficar tonto É problema de pressão Pressão do mundo De todos os lados De conhecidos De quem mal conheço De quem eu nem senti o beijo E já estou indo fundo Quem espera o melhor de mim Pode ter o meu pior Decepcionar é o meu forte O meu fraco você já sabe muito bem Vive exposto para o desgosto De quem não nasceu com sorte Gosto de frases longas Quando escuto perguntas curtas Mas o meu silêncio é permanente Quando sua intimidade tenta invadir minha intimidade Faço aniversário três vezes ao ano E já esqueci, nem lembro, qual minha verdadeira idade O meu choro inesquecível Foi depois de um tapa do obstetra Por isso meu filho vai nascer na bacia Ou em uma banheira com água Para não sofrer com os nossos dias Os retrógrados novos dias

Novos Coitados

Vou chorar, Não preciso de motivo Vou chorar, Sou um cara normal Um sujeito que também chora escondido Com medo de algo que eu não sei o que é Só sei que vou chorar Até sentir que fiquei melhor Ou sem saída, sem escapatória Completamente sem fé Tirei toda minha roupa Não preciso de mais nada O som do corpo é liberdade Liberdade é andar por uma estrada Sentindo o vento em minha face Esquecendo de tudo Esquecendo da maldade Vou dar uma festa surpresa Com data e hora marcada Vou anunciar nos jornais A chave vai ficar na porta Tragam doces e casacos Só não aceito animais Vamos brindar com xícaras de café Vamos aplaudir os derrotados, Os humilhados Não solte minha mão Somos os mais novos coitados

Elis Regina

Não gosto do silêncio Mas o barulho me incomoda Pessoas reunidas Eu aqui atrás da porta Fechos olhos, tento dormir Quem sabe acordar Descobrir que foi um sonho Tudo no mesmo lugar Não era sua melhor roupa Não era o seu melhor olhar Trocava tudo por sua vida Você em meus braços Do lado de cá O último carinho, O último beijo, Não foi como tinha que ser Despedida é tão triste Tão triste é não viver ao seu lado Minha voz já não te acorda Como vai ser? Nosso passeio da tarde Ainda está marcado Um dia vamos nos reencontrar Tudo como era antes Eu te amo, No rádio, na televisão ou em outro plano Para sempre te amar

Partindo

Fiz minha mala Juntei poucas coisas O suficiente para eu ser feliz Ou pelo menos tentar Deixei um bilhete Explicando com poucas palavras Que agora vou sem rumo Sem passagem de volta Estou levando até meu rádio a pilha Para ter com quem conversar Estou indo, partindo Adeus, Não vou olhar para atrás Vou para guerra levar um pouco de paz Gosto da educação dos desconhecidos Do sorriso sincero do menino Do aperto de mão Do jeito curioso de quem quer se aproximar Meu corpo já não percebe nenhuma diferença Entre um dia de sol Ou uma noite sem luar Fiz promessa e vou cumprir Saudade eu não vou sentir O que escolhi para mim Vai ser para sempre Vou levar saúde Vou curar esse mundo doente

Heróis

Não tenho heróis Não aponto vilões Não sou fanático Sou prático Sem rodeios Ando por caminhos tortos Mas sei onde vou chegar Sou um cara tão comum Sou o cisco no olho História triste que faz chorar Mas quando estou cansado Bato asas Gosto de voar Mudo de cidade Já não sou menino Meu corpo dói Sinto o peso da idade Sinceridade, Meu maior defeito Minha melhor qualidade

Tenho Fé

Tenho fé Sigo procurando qualquer coisa que me deixe melhor No banco de um ônibus Vejo chuva na janela Vejo paisagens que não vou alcançar Tenho fé Isso é o que me resta Tenho fé Desde os tempos de escola Fujo da realidade Sempre sonhando de olhos abertos Com vontade de mudar o mundo Mesmo sabendo que o mundo não é de verdade Meu corpo está cansado Bebo água quente Tomo banho frio Para limpar por dentro e por fora Sei que um dia vou morrer Nesse dia quero uma taça de vinho Um disco do Belchior na vitrola Sem testemunhas Quero sumir sozinho Sou um garoto de bigode Perdendo meus poucos fios de cabelo Meu nome grande não cabe na identidade Não sou galã Mas nessa pobre vida sou modelo

Calçada

Já amanheceu Ainda estamos aqui Nessa mesa de bar Garrafas atrapalhando o nosso olhar Mas o papo não para Papo cabeça, papo de amor Mais um cigarro aceso Beijos sem por favor Rostos cansados Mas agora está tudo bem Mais tarde repetimos a dose Acordados, sem mais ninguém Antes disso, mais uma dose Copos na mesa Duas pedras de gelo Palavras ousadas Para dar um tempero Óculos com óculos O seu cabelo tão cheiroso Vou seguir suas pegadas Tropeçar em seu charme Dormir em sua calçada

Dálias

Mais respostas Para mais perguntas Desejos e inspirações Procurando motivos para cantar Uma canção sobre alguém que já não está mais lá O tempo passa rápido Mas demora quando o melhor verso insiste em não chegar Olhando livros na estante O melhor título vai virar nome de banda Depois um vinil na vitrola Iê, iê é rock e não é dança Um quarto de hotel O melhor lugar para compor Papel, caneta e violão Dália para escrever a letra Para enfeitar o recinto com seu botão

Espanto

Minha cara de espanto Já não espanta mais ninguém Parece que sou o único Único indignado O que enxerga um pouco mais além Crime em horário nobre Em rede nacional Antes da novela Na manchete do jornal Dinheiro entra no bolso de quem já tem Mas sempre cabe mais um, Mais uns Já cofre de pobre É só baixar Vazio, recheado de vento Sem nenhum puto Sem nenhum tostão para gastar Tiros para o alto Fuzil na mão Caneta também é arma Quem assina o cheque Quem sofre é o cidadão Agora só ando pela sombra Prefiro tempo nublado e frio Não quero só morar Quero também ser dono do Brasil

Páginas

Sou um livro com páginas em branco Sem passado para contar Com futuro incerto Apenas alguns rascunhos que já rasguei Sou uma vida perdida Sou o errado escrito por linhas certas O que teve sorte, mas não aproveitou Um louco sem tamanho que no escuro chorou Menti buscando verdades Fugindo sempre do fim Despedida em silêncio Eu prefiro assim Gosto de saber histórias dos outros Imagino um filme completo O roteiro vai contar tudo Vai falar de pessoas que não conhecem o afeto Sou um personagem que realmente existe Vive dentro do meu peito Artista de cara lavada No palco sem vergonha Mesmo virando piada

Indefinido

Você está preparado para morrer assim, Do nada, Sem despedida, sem choro, sem vela Sem vigília na madrugada? Você está preparado para morrer assim, Com dor, Sofrendo na cama de um hospital Ou na cadeira de rodas olhando para o jardim? Você já falou o que tinha para falar? Já olhou nos olhos de quem perdeu um pouco de tempo para te amar? Todo dia é um espanto Acordar e descobrir que ganhou mais uma chance Mesmo sabendo que do destino é impossível fugir O melhor mesmo é sorrir Ótimo dia, boas loucuras Noite é sempre tão escura O dia é tão branco Sabedoria é não saber muita coisa Do lado de lá não sabemos nada Nada, nada, nada Quanto tempo demora para o nosso rosto ser esquecido? Ser lembrado como um ser de paz Ou apenas um ruído

Lados

Os dois lados de uma moeda São lados que se completam O arco não é nada sem a flecha O sol nasce depois da lua Ou seria ao contrário? O espinho serve para proteger Ferir o inimigo O grito que não explode Faz mal e faz sofrer Já atiraram tantas pedras Delas fiz uma estrada Já fui de ferro, Agora sou fênix Das cinzas para vitória Nada como viver lindos dias de glória Depois de dar a volta por cima Chegar ao topo Ouvir o mundo aplaudir Autoestima Hoje não sou mais o que eu era ontem Agora sou melhor O mesmo lenço que enxuga lágrimas É o que seca o meu suor No caminho de volta O silêncio quebrado pelo som dos pássaros Deus do início ao fim Sou janela aberta esperando o vento Que já não sopra mais como antes Sou o asfalto em uma tarde de verão Eternamente em transe