Dor

Ela tem dor
Dói 
Dói seu corpo 
Dói sua alma
Ela tem medo 
Prefere o silêncio
Chora baixinho
Chora escondida
Ela sabe que isso não é vida

Por seus filhos ela faz qualquer coisa
Aceita o sofrimento 
Ninguém pode falar dessa mulher 
Dizer que está errada
Só ela sabe o que é
Sofrer calada

Para seu pai diz que está tudo bem 
Para mãe não sabe mentir
Diz que em breve vai voltar para o seu quarto da infância
Vai trazer as crianças 
Mas só não sabe quando
Ela acha que ele ainda vai mudar
Que pode até se transformar
Espera por um milagre
Sonha com ele na igreja
Mas sabe que é quase impossível 
Ele não larga a cachaça
Na garrafa vive abraçado
Ela percebe que não tem saída
Está perdida

Um dia despertou
Sentindo a pesada mão 
Daquele covarde
Que não mudou
Mas ele não esperava
Uma faca embaixo do travesseiro
Agora foi a vez
Do coração dele sangrar
Morreu pedindo perdão 
Ela nada falou
Apenas se entregou
Hoje seus filhos vivem com os avós
Ela espera julgamento 
Numa cela fria
Vazia
Esqueceu o que é sentimento
E sabe que um dia
Vai voltar para a rua
Mas nunca mais será a mesma
Já está condenada
Por uma tristeza que não passa